MONSTRUOSO

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  Imagem :  Syaibatul Hamdi  [Texto de Franco "Bifo" Berardi , publicado em Il DISERTORE , em 26/05/2025. Tradução: Haroldo Gomes] Que palavra pode definir a arrogância da desumanidade que está se espalhando? Mas não posso. Disse Bertolt Brecht: EM MINHA LUTA ENTUSIASMO PELA MACIEIRA EM FLOR E HORROR AOS DISCURSOS DO PINTOR MAS APENAS O SEGUNDO ME EMPURRA PARA A MESA DE TRABALHO O horror que sinto pelos discursos de Netanyahu e pelas provocações covardes dos colonos israelenses é forte demais para que eu consiga me preocupar com qualquer outra coisa. Hoje não posso deixar de mencionar Yussuf al-Samary: "Yussuf al-Samary é um garoto de 15 anos, originário da cidade de Gaza, mas que vive com sua família deslocada no campo de al-Mawassi, na praia de Khan Younis. É seu último local de evacuação. Agora, toda a família vive em uma barraca feita de ripas de madeira e plástico transparente. Eles estavam anteriormente em uma escola em Hay Tuffah. Yussuf tentou comprar um sanduích...

O comum


Um conceito novo, que nos obriga a pensar as relações na sociedade é o de Comum. Talvez seja o caso de começarmos por ele. Segue texto de Judith Revel.

“O termo “comum” adquiriu depois de algum tempo uma grande importância, um pouco como, há alguns anos, o termo “biopolítica”. Contudo, acho que não é demais repetir que esta noção desmonta, desconstrói e torna impraticável todo o arcabouço conceitual que tem servido de sustentação ao pensamento político moderno desde o século XVII.

O pensamento do comum não pode mais funcionar a partir dos pares dialéticos público/privado ou individual/coletivo. No primeiro caso, o comum denuncia o fato de que se o “privado” é uma apropriação individual, o “público” historicamente representa a apropriação pelo Estado, ou seja, a usurpação que consiste em fazer acreditar que aquilo que não pertence a ninguém (e de fato pertence ao Estado), na realidade pertence a todo mundo. No segundo caso, desafia a oposição entre diferença vista como particularidade, e coletividade – ou generalidade – como universalidade. A teoria política que inscreve a diferença singular no marco do subjetivo, e assim a rejeita e a confina à esfera do “privado” e do “não-partilhável” não funciona porque propõe o outro pólo do político para o lugar do reverso desta esfera: o que é geral (uma vontade geral completamente destituída da carga de subjetividades singulares); o que é universal (que com muita frequência opera a partir a eliminação pura e simples das diferenças ou do reducionismo mais raso de procurar um “mínimo denominador comum” aceitável para todos, ou melhor, que sirva para todas as pessoas); e o que é coletivo (que procede através da despossessão de cada um sem a reapropriação de todos).

O “comum” exige ao contrário ser pensado como persistência das diferenças singulares enquanto diferenças, num agenciamento diferencial destas diferenças. Ele precisa ser experimentado como partilha das diferenças, ou seja, como construção de um espaço – político, subjetivo e de vida – onde cada um reforça por sua própria diferença a potência desta comunalidade com o outro. O comum é uma construção radicalmente democrática das singularidades – onde a radicalidade desta democracia desde baixo seria uma garantia absoluta de universalidade, e onde colocar em comum as singularidades em seu devir-diferencial constitui a própria construção de uma vida compartilhada, ou seja, de uma comunidade, de uma polis, de uma política ainda inédita.”

(Judith Revel, filósofa italiana)

Comentários

  1. Reflexões sobre o texto acima:
    1) O conceito de Comum se diferencia do de Público (Estatal).
    2) O Comum faz repensar a política.

    Aprofundar isso é muito importante.

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