Um conceito novo, que nos obriga a pensar as relações na sociedade é o de Comum. Talvez seja o caso de começarmos por ele. Segue texto de Judith Revel.
“O termo “comum” adquiriu depois
de algum tempo uma grande importância, um pouco como, há alguns anos, o termo
“biopolítica”. Contudo, acho que não é demais repetir que esta noção desmonta, desconstrói e torna impraticável todo o arcabouço
conceitual que tem servido de sustentação ao pensamento político moderno desde
o século XVII.
O pensamento do comum não pode
mais funcionar a partir dos pares dialéticos público/privado ou
individual/coletivo. No primeiro caso, o comum denuncia o fato de que se o
“privado” é uma apropriação individual, o “público” historicamente representa a
apropriação pelo Estado, ou seja, a usurpação que consiste em fazer acreditar
que aquilo que não pertence a ninguém (e de fato pertence ao Estado), na
realidade pertence a todo mundo. No segundo caso, desafia a oposição entre
diferença vista como particularidade, e coletividade – ou generalidade – como
universalidade. A teoria política que inscreve a diferença singular no marco do
subjetivo, e assim a rejeita e a confina à esfera do “privado” e do “não-partilhável”
não funciona porque propõe o outro pólo do político para o lugar do reverso
desta esfera: o que é geral (uma vontade geral completamente destituída da
carga de subjetividades singulares); o que é universal (que com muita
frequência opera a partir a eliminação pura e simples das diferenças ou do
reducionismo mais raso de procurar um “mínimo denominador comum” aceitável para
todos, ou melhor, que sirva para todas as pessoas); e o que é coletivo (que
procede através da despossessão de cada um sem a reapropriação de todos).
O “comum” exige ao contrário ser
pensado como persistência das diferenças singulares enquanto diferenças, num
agenciamento diferencial destas diferenças. Ele precisa ser experimentado como
partilha das diferenças, ou seja, como construção de um espaço – político,
subjetivo e de vida – onde cada um reforça por sua própria diferença a potência
desta comunalidade com o outro. O comum é uma construção radicalmente democrática
das singularidades – onde a radicalidade desta democracia desde baixo seria uma
garantia absoluta de universalidade, e onde colocar em comum as singularidades
em seu devir-diferencial constitui a própria construção de uma vida
compartilhada, ou seja, de uma comunidade, de uma polis, de uma política ainda
inédita.”
(Judith Revel, filósofa italiana)
Reflexões sobre o texto acima:
ResponderExcluir1) O conceito de Comum se diferencia do de Público (Estatal).
2) O Comum faz repensar a política.
Aprofundar isso é muito importante.