MONSTRUOSO

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  Imagem :  Syaibatul Hamdi  [Texto de Franco "Bifo" Berardi , publicado em Il DISERTORE , em 26/05/2025. Tradução: Haroldo Gomes] Que palavra pode definir a arrogância da desumanidade que está se espalhando? Mas não posso. Disse Bertolt Brecht: EM MINHA LUTA ENTUSIASMO PELA MACIEIRA EM FLOR E HORROR AOS DISCURSOS DO PINTOR MAS APENAS O SEGUNDO ME EMPURRA PARA A MESA DE TRABALHO O horror que sinto pelos discursos de Netanyahu e pelas provocações covardes dos colonos israelenses é forte demais para que eu consiga me preocupar com qualquer outra coisa. Hoje não posso deixar de mencionar Yussuf al-Samary: "Yussuf al-Samary é um garoto de 15 anos, originário da cidade de Gaza, mas que vive com sua família deslocada no campo de al-Mawassi, na praia de Khan Younis. É seu último local de evacuação. Agora, toda a família vive em uma barraca feita de ripas de madeira e plástico transparente. Eles estavam anteriormente em uma escola em Hay Tuffah. Yussuf tentou comprar um sanduích...

ABRE DO OLHO, PARNAMIRIM (1)

Esses dias circulou nas redes sociais trecho de uma entrevista de uma pessoa que se apresenta como pré-candidata à Prefeito/a de Parnamirim e foi de assustar. 

A pessoa disse: "Sou candidata contra o aborto e a favor da vida, sou cristã e a favor da família. Não sou esquerdista." E ponto final. 

Parnamirim é uma cidade que se aproxima dos 300 mil habitantes. Uma cidade litorânea com muitos problemas: crescimento urbano desordenado, algumas áreas de constantes alagamentos que se repetem todo ano no período das chuvas, violência urbana, atendimento precário na saúde, desemprego e tantos outros. Uma cidade que já foi berço de importante polo industrial (especialmente têxtil) e que, com o fim das isenções de impostos e o processo de desindustrialização que vive o país nos últimos anos, se desfez. Uma cidade com muitos problemas sobre os quais os candidatos precisam se debruçar e oferecer alternativas viáveis e definitivas em forma de propostas. Uma cidade que operou em 2023 com 842 milhões de reais de receita total e destinou cerca de 0,6% desse valor para o investimento em ações culturais. Sendo que quase a metade desses 0,6% são de recursos federais.

Mas a pauta da maioria dos pré-candidatos a Prefeito atuais é moralista e ideológica. Uma mistura de falso moralismo com hipocrisia e negacionismo bolsonarista. A mesma postura que negou a gravidade de uma pandemia que resultou em 700 mil mortos no pais; que negligenciou a importância das vacinas; que agride ao meio ambiente e nega a gravidade desse descaso com a natureza (a tragédia no RS é, também, fruto dessa postura negacionista e de desmonte do Estado pela visão privatista). 

É preciso ficar atentos. As tragédias não acontecem apenas com os outros e elas também são, em grande medida, resultado da quase completa ausência de planejamento, de visão estratégica da cidade por parte de quem a administra. Que cidade temos? Que cidade queremos e para quem? A natureza não escolhe tempo nem mede o impacto de suas reações às agressões dos seres humanos. E quando as tragédias vêm são as pessoas mais simples quem mais sofre e as alternativas não podem ser na base da operação "tapa buraco". "Alagou? - Liga a bomba aí pra tirar a água. A bomba quebrou? Leva pra consertar". E o povo que aguente o transtorno. 

Tem pré-candidatura aí que se o cidadão pedir 5 propostas de ação para resolver problemas da cidade, não consegue apresentar, tamanha é a incapacidade. De fazer pena. Talvez por isso o número de pessoas indecisas nas pesquisas seja tão grande: não se sabe nem pra onde correr. "Se ficar o bicho pega, se correr o bicho come".

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