[artigo de Christian Laval publicado em Viento Sur , em 8/4/2024. Tradução: Haroldo Gomes] A observação é clara. As democracias liberais e parlamentares, ligadas aos chamados Estados de Direito, são confrontadas externamente por regimes que abominam essa forma política, enquanto internamente são sabotadas por uma grande fração de forças de direita ou de extrema direita. Os recentes sucessos eleitorais das formações mais nacionalistas e xenófobas na Itália, Holanda e Alemanha atestam isso. Não se trata aqui de aprovar o desempenho das democracias parlamentares que estão historicamente ligadas ao colonialismo e que deram uma roupagem liberal à exploração capitalista da força de trabalho. Em vez disso, trata-se de mostrar como o neoliberalismo, como um modo geral de organização econômica e social em todos os níveis da vida, funcionou e continua a funcionar como uma máquina formidável para a destruição da democracia liberal. Foi isso que levou alguns autores, como Wendy Brown, a falar de
Desobedecer
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vaporaovento
“Tomo emprestado, como ponto de partida – paradoxal –, a provocação de Howard Zinn: o problema não é a desobediência, o problema é a obediência. Ao que faz eco a frase de Wilhelm Reich: “A verdadeira questão não é a de saber por que as pessoas se revoltam, mas por que não se revoltam”.
As razões para não aceitar mais o estado atual do mundo, seu curso catastrófico, são quase demasiado numerosas. Detalhá-las todas resultaria numa litania de desastres.
Destacarei aqui apenas três ou quatro fortes motivos que há muito tempo deveriam ter suscitado nossa desobediência e provocá-la ainda hoje, pois só fazem agravar-se.
No entanto, nada acontece, ninguém ou quase ninguém se levanta.”
[Trecho do livro “Desobedecer”, de Frédéric Gros]
LIVRO: Desobedecer
AUTOR: Frédéric Gros
EDITORA: Ubu
CONDIÇÃO: Livro Novo
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Dar a ver, dar o que pensar: contra o domínio do automático
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[Belíssimo texto do Amador Fernandez-Savater , publicado no blog Interferências , eldiario.es (Espanha), em 16/11/2018. Tradução: Vapor ao Vento] Passamos o dia olhando, porém somos capazes de ver algo? Que relação há entre ver e pensar? E em que sentido a percepção é um problema político? O escritor Albert Camus disse: “pensar é aprender de novo a ver e ter atenção”. É uma frase surpreendente porque o pensamento não se vincula ao saber, ao conhecer, à análise ou à verdade mas à transformação da percepção e da atenção . Aprender : ir mais além do sabido. De novo a ver : recrear nosso olhar sobre algo, vê-lo distinto. E a ter atenção : atender outro plano de realidade, outro tipo de sinais. Vou pousar esta imagem de pensamento, como recreação do olhar e da atenção, em dois exemplos que tenho ao alcance da mão. E animo cada qual a imaginar os seus. Renomear a realidade O primeiro é um artigo breve que minha amiga Amarela Varela me enviou para publicar em eld
“Voltar a nos entediar é a última aventura possível”: entrevista com Franco Berardi, Bifo
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