MONSTRUOSO

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  Imagem :  Syaibatul Hamdi  [Texto de Franco "Bifo" Berardi , publicado em Il DISERTORE , em 26/05/2025. Tradução: Haroldo Gomes] Que palavra pode definir a arrogância da desumanidade que está se espalhando? Mas não posso. Disse Bertolt Brecht: EM MINHA LUTA ENTUSIASMO PELA MACIEIRA EM FLOR E HORROR AOS DISCURSOS DO PINTOR MAS APENAS O SEGUNDO ME EMPURRA PARA A MESA DE TRABALHO O horror que sinto pelos discursos de Netanyahu e pelas provocações covardes dos colonos israelenses é forte demais para que eu consiga me preocupar com qualquer outra coisa. Hoje não posso deixar de mencionar Yussuf al-Samary: "Yussuf al-Samary é um garoto de 15 anos, originário da cidade de Gaza, mas que vive com sua família deslocada no campo de al-Mawassi, na praia de Khan Younis. É seu último local de evacuação. Agora, toda a família vive em uma barraca feita de ripas de madeira e plástico transparente. Eles estavam anteriormente em uma escola em Hay Tuffah. Yussuf tentou comprar um sanduích...

França ferida no coração de seu laicismo e de sua liberdade


[Texto de Edgar Morin, sociólogo e filósofo francês, publicado no portal Rebelión, em 13.1.2015. Tradução: Vapor ao Vento]
A expressão de François Hollande é justa: “França ferida no coração”. Feriram-na no coração de sua natureza laica e de sua ideia de liberdade, justamente contra um semanário tipicamente desrespeitoso, do burlesco até toda forma sagrada, especialmente religiosa. Pois bem, a falta de respeito de Charlie Hebdo se situa no riso e no humor, o que outorga ao atentado um caráter monstruosamente imbecil.
Nossa emoção não deve paralisar nossa razão, como tampouco a razão deve atenuar nossa emoção.

Uma contradição insuperável
Houve problemas no momento de publicar as caricaturas. É necessário deixar que a liberdade ofenda a fé dos crentes do islão degradando a imagem de seu Profeta ou é que a liberdade de expressão prima sobre toda outra consideração? Meu sentimento é que existe uma contradição insuperável, tanto mais que eu sou dos que se opõem à profanação dos lugares e dos objetos sagrados.
Porém que se entenda bem, isso não diminui meu horror e meu asco pelo atentado a Charlie Hebdo. Dito isso, meu horror e meu asco não podem me impedir de contextualizar esse imundo atentado. Tem significado a irrupção no coração da França da guerra do Oriente Médio, guerra civil e internacional na qual a França interviu seguindo os Estados Unidos.
O ascenso do Estado Islâmico é certamente uma consequência das radicalizações e da putrefação da guerra no Iraque e na Síria, porém as intervenções estado-unidenses no Iraque e no Afeganistão contribuíram para a decomposição de nações compostas étnica e religiosamente, como Síria e Iraque.
Os Estados Unidos têm sido aprendizes de bruxos e a heterogênea e sem força real coalizão que dirigem está condenada ao fracasso, posto que não reúne todos os países interessados e dado que tem por objetivo de paz a impossível restauração da unidade sírio-iraquiana, enquanto que a única saída pacífica (atualmente irrealizável) seria a formação de uma grande confederação de povos, etnias, religiões do Oriente Médio com o aval da Organização das Nações Unidas, único antídoto para o Califado.

Coincidência
França está presente com sua aviação, pelos franceses muçulmanos que se incorporaram à guerra santa, pelos franceses muçulmanos que regressaram da guerra santa e agora está igualmente claro que o Oriente Médio está também no interior da França através da criminosa atividade que debuta com o atentado a Charlie Hebdo, como também está no conflito palestino-israelita.
Além disso, existe uma coincidência, por outra parte fortuita, entre o islamismo integrista assassino que acaba de se manifestar e as obras islamofóbicas de Zemmoury Houllebecq, convertidas em sintomas de uma virulência agravada da islamofobia no solo da França, mas também da Alemanha ou da Suécia.

O medo se agravará
O pensamento reducionista triunfa. Não somente os assassinos fanáticos creem combater as cruzadas e seus aliados os judeus (que os cruzados massacravam) como os islamofóbicos reduzem todo árabe a sua suposta crença no islão, reduzindo o islâmico ao islamismo, o islamismo ao integrismo, o integrismo ao terrorismo. Esse anti-islamismo se torna cada vez mais radical e obsessivo e tende a estigmatizar toda uma população mais importante ainda do que a população judia que foi estigmatizada pelo antissemitismo antes da guerra e de Vichy.
O medo se agravará entre os franceses de origem cristã, entre os de origem árabe, entre os de origem judia. Uns se sentem ameaçados pelos outros e está se produzindo um processo de decomposição que talvez possa parar na grande manifestação do sábado, 10 de janeiro, porque a resposta à decomposição é a união de todos, de todas as etnias, de todas as religiões e de todas as correntes políticas.

Edgar Morin é sociólogo e filósofo.

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