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Mostrando postagens de março, 2020

PENSANDO NO FIM, por Franco "Bifo" Berardi

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[artigo de Franco 'Bifo' Berardi , publicado em CTXT , em 08/10/2024. Tradução: Haroldo Gomes] Todos os discursos que ouvimos hoje, em 2024, são discursos que preparam o extermínio mútuo. A liberdade dos seres humanos reside única e exclusivamente no fato de que eles falam e se expressam com sinais. Nessa esfera, e em nenhuma outra, eles são livres.  Nessa esfera, eles se emancipam dos desígnios de Deus e, ao mesmo tempo, se emancipam da tirania do particular, do pertencimento e da força bruta. O processo de civilização consistiu em submeter a brutalidade da energia à linguagem. A missão da modernidade era governar a brutalidade e submeter a natureza à linguagem. Aqui reside a vocação dos modernos, pelo menos nas suas intenções. Hoje sabemos que, deste ponto de vista, a modernidade falhou no seu propósito. Não quero dizer que a linguagem tenha saído de cena: pelo contrário, a linguagem acelerou o seu ritmo a ponto de proliferar para além dos limites das capacidades de processa...

Crônica da Psicodeflação

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[Texto de Franco " Bifo " Berardi, escritor, filósofo e agitador cultural, publicado no site italiano da casa editora Nero , em 16/3/2020. Tradução : Vapor ao Vento] O imprevisto transforma aquilo que a vontade não soube transformar. Mas agora se trata de reativar a energia renovável da imaginação. “ A palavra é um vírus. Talvez o vírus do influenza tenha sido, alguma vez, uma célula sã. Agora é um organismo parasita que invade e danifica o sistema nervoso central. O homem moderno não conhece mais o silêncio. Tenta interromper o discurso subvocal. Experimenta dez segundos de silêncio interior. Vais encontrar um organismo resistente que te obriga a falar. Esse organismo é a palavra.” [William Burroughs, The Ticket that Exploded ] 21 de fevereiro Retornando de Lisboa, uma cena inesperada no Aeroporto de Bolonha. Na entrada, há dois humanos completamente cobertos com uma roupa branca, com um capacete fluorescent...

MONÓLOGO DO VÍRUS

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Monólogo do vírus é um texto que foi publicado inicialmente no site francês LundiMatin , em vários idiomas, em 21/3/2020. "Eu vim parar a máquina cujo freio de emergência vocês não estavam encontrando" Queridos humanos, parem com os seus ridículos apelos à guerra. Parem de me lançar esses olhares de vingança. Desliguem a aura de terror com que embrulham o meu nome. Nós, os vírus, desde a origem bacteriana do mundo, somos o verdadeiro continuum da vida na Terra. Sem nós, vocês nunca teriam visto a luz do dia, nem mesmo a teria visto a primeira célula.  Nós somos os seus ancestrais, como as pedras e as algas, e bem mais do que os macacos. Nós estamos onde vocês estão e também onde não estão. Que pena que apenas reconheçam no universo aquilo que se assemelha a vocês. Mas, acima de tudo, parem de dizer que sou eu quem está a lhes matar. Não estão a morrer por causa do que estou a fazer aos seus tecidos, mas porque deixaram de cuidar de seus semelhantes. Se vocês n...