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Mostrando postagens de maio, 2024

PENSANDO NO FIM, por Franco "Bifo" Berardi

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[artigo de Franco 'Bifo' Berardi , publicado em CTXT , em 08/10/2024. Tradução: Haroldo Gomes] Todos os discursos que ouvimos hoje, em 2024, são discursos que preparam o extermínio mútuo. A liberdade dos seres humanos reside única e exclusivamente no fato de que eles falam e se expressam com sinais. Nessa esfera, e em nenhuma outra, eles são livres.  Nessa esfera, eles se emancipam dos desígnios de Deus e, ao mesmo tempo, se emancipam da tirania do particular, do pertencimento e da força bruta. O processo de civilização consistiu em submeter a brutalidade da energia à linguagem. A missão da modernidade era governar a brutalidade e submeter a natureza à linguagem. Aqui reside a vocação dos modernos, pelo menos nas suas intenções. Hoje sabemos que, deste ponto de vista, a modernidade falhou no seu propósito. Não quero dizer que a linguagem tenha saído de cena: pelo contrário, a linguagem acelerou o seu ritmo a ponto de proliferar para além dos limites das capacidades de processa...

Uma década esquizofrênica

  [artigo de Franco Berardi Bifo , publicado em Machina , em 15/05/2024. Tradução: livreiro da floresta] É uma memória esquizofrênica, a dos anos 1990. Assim começa a palestra de Franco Berardi Bifo dedicada àquela década, concebida para o o Festival DeriveApprodi 7: "Anos noventa: quando o futuro acaba", que começa hoje. O artigo se desenvolve entre a grande utopia da rede e a barbárie da identidade, entre o imaginário das ciberculturas e um novo ciclo de guerras, entre o fim do império do mal e o início do império do pior. É o início de um período sombrio: como podemos passar por isso sem ceder à chantagem da necessidade, do medo, da culpa e da identidade? Pediram-me para escrever algo sobre a década de 1990. É uma questão complicada porque minha memória dos anos 90 é esquizofrênica. É a década da grande utopia da internet, mas é também a década em que começa a barbárie da identidade, que nunca parou de crescer desde então, até se tornar, hoje, um monstro que ninguém pode d...