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Mostrando postagens de 2018

Dar a ver, dar o que pensar: contra o domínio do automático

[Belíssimo texto do Amador Fernandez-Savater , publicado no blog Interferências , eldiario.es (Espanha), em 16/11/2018. Tradução: Vapor ao Vento] Passamos o dia olhando, porém somos capazes de ver algo? Que relação há entre ver e pensar? E em que sentido a percepção é um problema político? O escritor Albert Camus disse: “pensar é aprender de novo a ver e ter atenção”. É uma frase surpreendente porque o pensamento não se vincula ao saber, ao conhecer, à análise ou à verdade mas à transformação da percepção e da atenção . Aprender : ir mais além do sabido. De novo a ver : recrear nosso olhar sobre algo, vê-lo distinto. E a ter atenção : atender outro plano de realidade, outro tipo de sinais. Vou pousar esta imagem de pensamento, como recreação do olhar e da atenção, em dois exemplos que tenho ao alcance da mão. E animo cada qual a imaginar os seus.   Renomear a realidade O primeiro é um artigo breve que minha amiga Amarela Varela me enviou para publicar em eld

“Voltar a nos entediar é a última aventura possível”: entrevista com Franco Berardi, Bifo

Entrevista com o filósofo italiano, Franco Berardi (Bifo) , feita por Amador Fernández-Savater, publicada no blog Interferencias , em 19/10/2018. Tradução: Vapor ao Vento. No começo dos anos 70, Pier Paolo Pasolini falava de “mutação antropológica” para se referir aos efeitos que a penetração da cultura do consumo na Itália estava tendo. O consumo alcançava e alterava camadas do ser que nem sequer o fascismo havia tocado. Todas as respostas – da política, da cultura, da filosofia – deviam ser repensadas à luz dos acontecimentos, segundo o poeta-cineasta. Em seu último livro Fenomenología del fin , um trabalho de mais de 15 anos, Franco Berardi (Bifo), filósofo e participante ativo dos movimentos autônomos italianos desde os anos 70, descreve a “mutação antropológica” de nossos dias: o impacto das tecnologias digitais sobre nossa percepção e nossa sensibilidade. O que é a sensibilidade? É a capacidade de interpretar sinais não discursivos, não-codificados. Pois bem, essa capac