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Mostrando postagens de dezembro, 2014

PENSANDO NO FIM, por Franco "Bifo" Berardi

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[artigo de Franco 'Bifo' Berardi , publicado em CTXT , em 08/10/2024. Tradução: Haroldo Gomes] Todos os discursos que ouvimos hoje, em 2024, são discursos que preparam o extermínio mútuo. A liberdade dos seres humanos reside única e exclusivamente no fato de que eles falam e se expressam com sinais. Nessa esfera, e em nenhuma outra, eles são livres.  Nessa esfera, eles se emancipam dos desígnios de Deus e, ao mesmo tempo, se emancipam da tirania do particular, do pertencimento e da força bruta. O processo de civilização consistiu em submeter a brutalidade da energia à linguagem. A missão da modernidade era governar a brutalidade e submeter a natureza à linguagem. Aqui reside a vocação dos modernos, pelo menos nas suas intenções. Hoje sabemos que, deste ponto de vista, a modernidade falhou no seu propósito. Não quero dizer que a linguagem tenha saído de cena: pelo contrário, a linguagem acelerou o seu ritmo a ponto de proliferar para além dos limites das capacidades de processa...

Em 2015: a vida nada mais

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Verás que um Bico teu não foge à luta

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  HAROLDO GOMES A notícia da nomeação de Rodrigo Bico (na foto de Lenilton Lima) para a presidência da Fundação José Augusto (FJA) é animadora. Bico é um ativista da cultura, um lutador, um artista que não se envergonha de fazer política, faz com alegria. Tem a credibilidade de muitos dos segmentos culturais do Estado e fez parte de um grupo de jovens militantes que deram feições alegres e vitalizantes a campanha do governador eleito, Robinson Faria. Com a mesma força com que atua no palco, Bico atuou nas Eleições 2014, na linha de frente do cordão criativo. De megafone (ou bico) solto. Chega a Fundação com méritos de sobra. Todos sabemos que os desafios são muitos. A começar pela dificuldade financeira que o Estado atravessa, sem contar com o histórico fim de fila da Cultura como prioridade governamental, o que exige poder de negociação. Tem ainda toda a engrenagem da Fundação que é uma instituição com décadas de funcionamento, com hábitos arraigados (um jeito his...
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O império do consumo

Eduardo Galeano  A explosão do consumo no mundo atual faz mais ruído do que todas as guerras e arma mais alvoroço do que todos os carnavais. Como diz um velho provérbio turco, quem bebe por conta, se embriaga o dobro. A farra aturde e nubla o olhar; esta grande bebedeira universal parece não ter limites no tempo nem no espaço. Porém, a cultura de consumo soa muito, como o tambor, porque está vazia; e à hora da verdade, quando o estrépito cessa e a festa se acaba, o bêbado desperta, só, acompanhado por sua sombra e pelos patos que há de pagar. A expansão da demanda choca com as fronteiras que o mesmo sistema que a gera, lhe impõe. O sistema necessita de mercados cada vez mais abertos e mais amplos, como os pulmões necessitam de ar, e ao mesmo tempo necessita que andem pelo chão, como andam os preços das matérias primas e da força humana de trabalho. O sistema fala em nome de todos, a todos dirige suas imperiosas ordens de consumo, entre todos difunde a febre compradora; por...